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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Poesia que faz bom tempo em Divinópolis


Adélia Prado - Foto: Eduardo Simões


“Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus”, são as palavras de Carlos Drummond de Andrade que definem a poetisa mineira Adélia Prado. Nascida em Divinópolis, onde reside até hoje, ela é mãe de cinco filhos, dona de casa, e lecionou filosofia por vários anos antes que sua carreira como escritora lhe tomasse todo tempo. A capacidade de transpor o cotidiano de mãe, mulher, religiosa e dona de casa para a linguagem poética, concedeu à obra de Adélia enorme importância literária dentro e fora do Brasil. Suas obras já foram traduzidas para diversas línguas, adaptadas para o teatro, e merecedoras de premiações importantes. “O coração disparado”, seu segundo livro, recebeu o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, e atualmente, a escritora foi agraciada com o Griffin Poetry Prize, premiação de poesia mais importante do Canadá e uma das mais importantes do mundo.

Para dimensionar um pouco a importância da obra desta autora, basta lembrar que seu primeiro livro, “Bagagem”, foi publicado por indicação de Drummond, que achou seus poemas “fenomenais”. “Adélia é uma das raras escritoras que já nasceram prontas. Tanto é, que seu primeiro livro, Bagagem, contém o seu máximo como escritora”, comenta João Carlos Ramos, vice-presidente da Academia Divinopolitana de Letras. Ele completa dizendo que “sua poesia convenceu Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Divinópolis, o Brasil e agora o mundo.”

Ainda sobre a relação da autora com Divinópolis, João Carlos afirma que a importância da escritora para a cidade é grandiosa e algo raríssimo. “Qual outra pessoa, em qualquer segmento, leva o nome de Divinópolis a nível mundial? Seja na área da politica, economia etc... nenhuma. Então Divinópolis hoje é reconhecida mundialmente através do trabalho da Adélia Prado”, afirma o também poeta. Enveredando-nos mais na poética desta mulher, podemos afirmar laços ainda mais estreitos entre ela e Divinopólis, uma verdadeira relação de interdependência: se Adélia leva essa pequena cidade interiorana de 200 mil habitantes a conhecimento mundial pela sua poesia, seus versos são nascidos do dia-a-dia neste mesmo lugar. “Meus livros estão todos enterrados na beira da linha do trem”, afirmou em entrevista concedida ao programa Roda-Viva em março deste ano, tendo morado a vida inteira nas proximidades da ferrovia divinopolitana.

Além do uso do cotidiano, o elemento religioso advindo do seu catolicismo tradicional também é um dos ingredientes centrais da obra. A presença divina é percebida em tudo pela poetisa, que escreve dando à vida simples um sentido de transcendência. Adélia declara em depoimento prestado a Giovanni Ricciardi: “Eu encaro a literatura como uma vocação, um dom do qual eu não posso dispor na hora que eu quero; acontece na hora que Deus quer, então eu fico à mercê disso.”

Além da religiosidade, Alba Durães, professora de Literatura e Cultura, acredita em dois elementos como sendo principais na obra da autora: o feminino e a simplicidade mineira. "Com a leveza feminina, a autora se envereda pelos temas como se não quisesse nada, mas as palavras revelam muita sensibilidade e posicionamento firme sobre as questões da vida e o existencialismo". A simplicidade profunda dos seus versos torna a leitura prazerosa, envolvente e reflexiva. Laura Gomes dos Santos, estudante, declara com gosto: “O olhar poético de Adélia é coisa rara: simples, sutil e, ao mesmo tempo, carregado. Ler poesias assim, que fazem carinho na alma, era tudo que o mundo estava precisando.”

O talento da poetisa é incontestável e intimamente ligado ao seu ser. “É uma pessoa de uma simplicidade, muito autêntica, muito sincera, de uma amizade profunda... O espirito da Adélia é franciscano... Sabe, é aquele encantamento com a vida, com a natureza, com tudo...”, declara Maria Cecília Guimarães, grande amiga da poetisa. A cidade, o cotidiano, a igreja, as tardes de domingo… Tudo transcende nos versos desta mulher de verdade, que ao escrever faz brilhar o sol.



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